COMO ESTUDAR MENOS E APRENDER MAIS – em medicina
Estudar é o verbo mais exclusivamente humano que existe. O verbo estudar deriva do substantivo estudo, cuja etimologia em Latim é "Studium": onde se contempla, onde se aprofunda o pensamento. O filósofo alemão, Arthur Schopenhauer, com seu estilo clássico, já definia: “Quem lê muito; pensa pouco.” Não adianta ler de forma dinâmica, assim como não adianta aumentar a velocidade do vídeo do professor. A pausa pode ser a mensagem mais importante da aula. Estudar é contemplar as ideias, é interagir com o texto, é consolidar o aprendizado. E, na área médica em especial, não basta aprender, o conhecimento precisa permanecer disponível para quando a gente precisar dele para tomar decisões com os pacientes.(Kaufman 2003; Taylor and Hamdy 2013) A seguir, serão apresentadas algumas estratégias para tornar o seu estudo mais eficiente.
COMO ESTUDAR
Em primeiro lugar, quem se dispõe a estudar precisa de determinação. Como muito bem explica o professor Clóvis de Barros Filho: “tem que ter brio!” Vale a pena buscar esse vídeo no YouTube. Em segundo lugar, quem quer estudar – e aprender – precisa definir o seu objetivo, como explica outro gênio brasileiro, destacado na área de desenvolvimento da inteligência, o professor Pierluigi Piazzi. Certo, determinação e objetivo colocados, vamos às estratégias:
Durma mais. Durma mais cedo – dormir é estratégico para aprender - e acorde bem cedo. Coma uma fruta, tome seu café e sente-se para estudar com um objetivo bem definido. Aproveite o silêncio da madrugada. Aproveite que você está descansado, seu cérebro está pronto para estudar. Prepare o ambiente. Uma poltrona confortável é importante. Leia em voz alta. Destaque o que for mais relevante. Use – ou crie – mnemônicas e acrônimos. Elabore diagramas para gravar melhor o que está estudando. Interaja com o texto. Estude e vá definindo “os ponteiros”, os indicadores por onde começar a pensar rapidamente sobre o assunto no futuro, quando precisar dele. Seja curioso. Faça e responda perguntas. Use fontes confiáveis na Internet e aproveite a Inteligência Artificial, também. Explique para alguém o que você aprendeu. Estude de forma intercalada, concentre-se naquele “tomate” durante 25 min (método pomodoro) e aplique o que aprendeu criando flash cards e resolvendo questões. Essas são as duas estratégias mais eficientes: estudo intercalado e resolver questões. (Dunlosky et al. 2013) Não deixe de fazer exercícios físicos durante o dia, seu sono será melhor e seu aprendizado, também.
COMO ESTUDAR E APRENDER MEDICINA
O objetivo é estudar e aprender para ser um clínico com embasamento científico e atuante de acordo com os princípios do SUS: empático e afetivo com os pacientes, efetivo em relação a sua capacidade diagnóstica e competente na atuação frente às emergências.(Diretrizes Curriculares Nacionais - curso de medicina, 2014) Nesse sentido, a teoria educacional para adultos do norte-americano Donald Schön, a prática reflexiva, pode ser muito útil. Inicialmene é necessário perceber que os problemas no cenário prático são dissonantes em relação ao conteúdo ensinado no ambiente acadêmico.(Schön 1983) A proposta é aprender pensando durante a ação e aprender, mais ainda, refletindo sobre a ação. Definido o objetivo principal e a estratégia geral, vamos revisar algumas técnicas específicas:
Tenha e mantenha um diário. Registre seus estudos, seu aprendizado, suas experiências e suas reflexões. Procure sempre refletir sobre o que é mais importante saber. Lembre-se: “o que interessa não é saber mais; é saber o que interessa mais”. Respeite as palavras: estude a etimologia das palavras, procure reconhecer e memorizar os radicais gregos e latinos das palavras técnicas. Defina as palavras técnicas pelos Medical Subject Headings (Descritores em Ciências da Saúde) ou pelo Dicionário de Termos Médicos de Stedman. Conheça a história das pessoas, dos fatos e dos fenômenos em medicina – compreenda que primeiro veio a desfibrilação, depois a cardioversão. Primeiro veio a lâmina reta do laringoscópio, depois a curva. Que a pressão diastólica somente foi reconhecida em 1907 em Moscou pelo médico residente de cirurgia, Dr. Korotkoff. Além de refletir sobre o que interessa mais, é muito importante escolher fontes confiáveis para estudar. Lembre-se: “pior do que não saber; é saber errado”. Escolha muito bem suas fontes de estudo. Quanto mais solidamente embasado em ciência séria, menos romântico é o texto. E, também, o professor, algumas vezes. Entenda que sua memória mais eficiente é a visual. Não perca o seu tempo expondo o seu cérebro a textos e imagens pouco confiáveis. Estude em inglês. As traduções para português podem conter erros, que comprometeriam o seu aprendizado. Use o Google Tradutor e aproveite para aprender espanhol ao mesmo tempo. Por último, sumarizar é um processo intelectual sofisticado frequentemente confundido de forma grosseira com deletar. Entretanto, se precisar estudar rapidamente um capítulo de livro, estude bem as figuras e as tabelas. Em geral, os autores reservam esses recursos para destacar as informações mais importantes de todo o conteúdo.
CONCLUSÃO
Como uma mensagem final para estudar menos e aprender mais: reflita sempre sobre a sua estratégia de aprendizagem. Nem todo mundo aprende igual. Aproveite as generalizações matemáticas, mas aceite a sua individualidade, pense sobre a sua forma de aprender e, sobretudo, seja resiliente. Antes de se aborrecer com os seus erros e fracassos, use-os para aprender e para melhorar a sua próxima oportunidade. (Dyre et al. 2017)
REFERÊNCIAS
- Dunlosky, J., K. A. Rawson, E. J. Marsh, M. J. Nathan, and D. T. Willingham. 2013. 'Improving Students' Learning With Effective Learning Techniques: Promising Directions From Cognitive and Educational Psychology', Psychol Sci Public Interest, 14: 4-58.
- Dyre, L., A. Tabor, C. Ringsted, and M. G. Tolsgaard. 2017. 'Imperfect practice makes perfect: error management training improves transfer of learning', Med Educ, 51: 196-206.
- Erasto Fortes Mendonça, Presidente da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação. 2014. "Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina." In, edited by MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, pp. 8-11. Brasília: Diário Oficial da União.
- Kaufman, David M. 2003. 'Applying educational theory in practice', BMJ : British Medical Journal, 326: 213-16.
- Schön, Donald A. 1983. The Reflective Practitioner: How Professionals Think In Action (Basic Books).
- Taylor, David C. M., and Hossam Hamdy. 2013. 'Adult learning theories: Implications for learning and teaching in medical education: AMEE Guide No. 83', Med Teach, 35: e1561-e72.