Ao falar de saúde bucal, a primeira coisa que vem à cabeça é o cuidado com os dentes. No entanto, é preciso ressaltar a importância do direito à saúde bucal em sua plenitude e das políticas públicas voltadas para sua consolidação, bem como da importância desse profissional na promoção de saúde de toda população. Em 20 de março é celebrado o Dia Mundial da Saúde Bucal, com o objetivo de orientar a população sobre os problemas bucais e de mobilizar a odontologia nacional a partir de ações que pretendem diminuir os índices de cárie, doenças periodontais e perda dos dentes.
A DOENÇA PERIODONTAL e a CÁRIE são as doenças humanas mais comuns no mundo e a principal causa de perda dos dentes. Ambas podem levar ao comprometimento nutricional e a um impacto negativo na autoestima e qualidade de vida. A placa bacteriana (ou biofilme dental) é um dos principais determinantes biológicos comuns ao desenvolvimento de ambas as doenças. A cárie é uma doença multifatorial (dependente da idade, genética, quantidade e frequência de ingesta de açúcar, presença de flúor em dentifrícios e água, quantidade de saliva, frequência e eficiência de higiene dentária) que destrói a porção mineral dos dentes, levando-o a cavidades que progressivamente desencadeiam a destruição do nervo dentário e infecções.
As doenças periodontais iniciam um processo inflamatório superficial nos tecidos gengivais ao redor dos dentes, dependendo de outros fatores de risco (idade, genética, stress, diabetes, fumo) pode haver avanço no estágio da doença. O estabelecimento e progressão da doença periodontal levam a destruição dos tecidos de sustentação dos dentes (ligamento periodontal, osso e tecidos gengivais), causando mobilidade dentária e consequentemente levando à perda desses dentes. Devido ao crescimento populacional mundial e maior longevidade na manutenção dos dentes, o número de pessoas portadoras de cárie e periodontite está crescendo, aumentando assim a prevalência total dessas doenças em todo mundo, particularmente na população mais idosa.
O risco de gengivite e periodontite, geralmente, aumenta com a idade, e a cárie, na maioria das vezes, aparece durante a infância e adolescência (lembrando que nos idosos aparecem as cáries nas raízes dos dentes). Essas doenças são extremamente prevalentes entre o público em geral, representando um risco muito alto para os dentes. Tanto os pacientes atuais quanto os futuros enfrentam a dupla ameaça de doenças periodontais e cárie durante toda vida. Felizmente, medidas preventivas e terapêuticas eficazes estão disponíveis para lidar com essas condições. Discussões científicas mais recentes apontam que abordagens preventivas, baseadas na higiene bucal diária utilizando creme dental fluoretado, são eficazes tanto para doença periodontal quanto cárie.
Nas últimas décadas, o interesse em estabelecer relação entre condições inflamatórias, saúde bucal e doenças sistêmicas vem aumentando. Estudos anteriores, por exemplo, já determinaram o papel da inflamação e de seus biomarcadores em relação à doença cardiovascular. Nesse contexto, a doença periodontal, uma das infecções mais prevalentes, emergiu como possível fator de alteração das condições inflamatórias sistêmicas.
O tempo de exposição da doença periodontal é o fator principal para desencadear outros problemas. A pessoa não sente dor e ignora. Com o tempo, pode haver sangramento, mobilidade dentária e, por fim, a perda do dente. Nesse momento, as bactérias já podem ter tido contato com outros órgãos e causar maiores problemas no organismo.
Temos dentro da cavidade oral mais de 700 diferentes espécies bacterianas que habitam um complexo ecossistema que se mantém em equilíbrio. Quando esse equilíbrio é rompido com crescimento de espécies bacterianas oportunistas, inicia-se um processo inflamatório com liberação de muitas toxinas bacterinas e citocinas pró-inflamatórias das células presentes na área. Inflamação é a característica-chave em muitas doenças crônicas, incluindo o câncer, diabetes, doenças cardiovasculares, bebês de baixo peso, parto prematuro.
As bactérias nos dentes também prejudicam a saúde de pessoas que sofrem com obesidade e são portadoras de diabetes. O aumento dos níveis de glicose e de lipídios pode contribuir para uma resposta inflamatória exagerada, modificando a funcionalidade de células de defesa do organismo e reduzindo, assim, o reparo dos tecidos periodontais doentes.
Fumantes também apresentam fatores de risco, principalmente se forem obesos ou tiverem diabetes. O tabaco causa deficiência na resposta imunológica e inflamatória de todo o organismo, além de outras alterações que resultam na destruição dos tecidos periodontais. A boa notícia é que a cárie pode ser evitada ou tratada precocemente e a doença periodontal tem tratamento e as consequências podem ser reparadas com cirurgias plásticas gengivais devolvendo o aspecto saudável e estético para a cavidade oral.
Independente da sua idade e estado de saúde, a fim de prevenir estas doenças, é importante reduzir a ingestão de açúcares, escovar os dentes pelo menos 2 vezes ao dia com creme fluoretado e não fumar.
Lembre-se: SAÚDE BUCAL IMPORTA.
Doença periodontal e cárie: interações e similaridades entre as doenças bucais mais comuns mundialmente:
1) A doença periodontal e a ´carie continuam sendo os maiores problemas de saúde pública mundial
2) Cárie e periodontite não tratados podem causar graves consequências e levar a perda dentária
3) 1 a cada 3 pessoas é afetada pela cárie
4) A periodontite avançada é a sexta doença mais comum do mundo
5) 10% da população mundial sofre de periodontite avançada – 743 milhões de pessoas afetadas
6) Periodontite avançada é a principal causa de perda de dentes da população adulta
Vamos lembrar que SAÚDE BUCAL IMPORTA!!!
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www.efp.org/gum-disease-general-health/perio-caries/
Silvia Maria Zanella
Mestre e Doutora em Odontologia
Especialista em Periodontia
Instagram: Dra.silviazanella